Os antibióticos continuam sendo a arma disponível mais eficaz na batalha contra as doenças infecciosas, mas seu uso não é isento de complicações. Atualmente, os objetivos no desenvolvimento de novos antibióticos incluem encontrar antibióticos eficazes com um amplo espectro de ação, ao mesmo tempo em que se desenvolvem estratégias para controlar a resistência aos antibióticos e limitar as complicações associadas ao seu uso.
Uma das complicações mais comuns, surge quando os antibióticos provocam disbiose intestinal, resultando na chamada diarreia associada a antibióticos (DAA).
A DAA é definida como diarreia que ocorre secundariamente ao tratamento com antibióticos, excluídas outras possíveis etiologias. Essa relação não se traduz, necessariamente, em reação adversa imediata aos antibióticos, pois a DAA pode ocorrer após algumas semanas e até alguns meses após a administração dos antibióticos. Assim, nesta última situação, é preciso cautela para diferenciar a DAA de um episódio de gastroenterite infecciosa.
O risco de DAA é maior quando há uso de aminopenicilinas sem ou com clavulanato, cefalosporinas, clindamicina e, em geral, qualquer antibiótico ativo contra anaeróbios. Quase qualquer tratamento antibiótico oral ou intravenoso pode, no entanto, causa-la. Clinicamente, pode se apresentar como diarreia leve e autolimitada, mas também como colite pseudomembranosa fulminante.
O uso de probióticos tem sido estudado para o manejo dessas diarreias, justamente a partir da hipótese de que a DAA é causada por disbiose intestinal e que a intervenção probiótica modula favoravelmente a microbiota intestinal.
Fizemos uma revisão de literatura sobre o tema e pudemos perceber que a maioria dos estudos avaliou o probiótico na prevenção da diarreia, e não para seu tratamento, após já instalada. Sendo assim, a ideia seria iniciar o probiótico junto com o antibiótico. E mesmo assim, os resultados dos estudos foram conflitantes na população pediátrica. Alguns deles demonstram benefício do Lactobacillos GG reduzindo em cerca de metade dos casos de diarreia por antibiótico, com NNT de 6. Ou seja, precisei tratar 6 pacientes com probiótico para evitar uma diarreia.
Quando direcionamos a pesquisa para a DAA associada ao Clostridium difficile, percebemos que os estudos apresentam uma qualidade menor da evidência, quando comparado àqueles que avaliam as demais diarreias associadas ao uso de ATB. No entanto, demonstram que a administração do Sacharomyces boulardii também reduziu o risco de diarreia associada ao C. difficile (RR 0,34, IC 95% 0,15–0,76).
Vale ressaltar que a maioria dos consensos indica o uso de probiótico para a prevenção da DAA apenas para crianças que possuem algum fator considerado de risco para desenvolvê-la, visto que essas foram as mais beneficiadas nos estudos. O risco individual de um paciente desenvolver a DAA ou C. difficile depende de vários fatores, como classe do(s) antibiótico(s), duração do tratamento, idade, necessidade de hospitalização, comorbidades e episódios anteriores de DAA ou diarreia associada a C. difficile.
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Referências bibliográficas:
Szajewska, Hania, et al. “Probiotics for the prevention of antibiotic-associated diarrhea in children.” Journal of pediatric gastroenterology and nutrition 62.3 (2016): 495-506.
Szajewska, H., and M. Kołodziej. “Systematic review with meta‐analysis: Lactobacillus rhamnosus GG in the prevention of antibiotic‐associated diarrhoea in children and adults.” Alimentary pharmacology & therapeutics 42.10 (2015): 1149-1157.
McFarland, L. V. “Epidemiology, risk factors and treatments for antibiotic-associated diarrhea.” Digestive Diseases 16.5 (1998): 292-307.
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