Cuidados com o cordão umbilical do recém-nascido na prevenção da onfalite

Cuidados com o cordão umbilical do Recém-nascido

São tantas crenças em torno do cordão umbilical e nós pediatras já escutamos de tudo.

Mesmo explicando que a estética do umbigo não depende dos cuidados pós-parto, muitas famílias acabam usando recursos que são contraindicados e prejudiciais ao bebê, como uso de faixas, moedas ou botões, para evitar a temida hérnia umbilical ou mesmo o umbigo mais saliente. Descubra agora mais informações sobre os cuidados com o cordão umbilical.

Recentemente, a difusão do parto de Lótus, que é a prática de não cortar o cordão umbilical após o nascimento, de modo que o bebê fique ligado à placenta até que o cordão se desprenda naturalmente do umbigo, tem deixado os infectologistas pediatras com o cabelo em pé. Já reforço aqui que não há estudos que demonstrem benefício dessa prática para o bebê.

As infecções pós-parto continuam sendo uma das principais causas de morbidade e mortalidade neonatal em todo o mundo. Uma alta porcentagem dessas infecções pode resultar da colonização bacteriana do umbigo. A separação do cordão umbilical é iniciada por trombose e contração dos vasos umbilicais, seguida de degradação tecidual mediada por fagócitos e epitelização do coto umbilical. O coto umbilical é colonizado por bactérias derivadas do trato genital materno ou do ambiente após o parto e, em alguns casos, esses organismos podem causar onfalite, tromboflebite, celulite, fasciíte necrosante e tétano. 

A onfalite deve ser conduzida como sepse neonatal e culturas de sangue e de líquor devem ser obtidas antes de começar antibioticoterapia venosa, direcionada contra organismos gram positivos e gram negativos.

Várias substâncias tópicas continuam a ser usadas para cuidar do cordão umbilical em todo o mundo a fim de diminuir o risco de infecção grave. Mais recentemente, particularmente em países com muitos recursos, o paradigma do tratamento mudou para o cuidado do cordão umbilical limpo e seco. 

O que dizem os estudos?

– A onfalite é rara em países desenvolvidos, com uma incidência relatada de 0,7% . No entanto, a prática de não separação umbilical intencional (ou seja, o cordão umbilical não é separado da placenta após o nascimento), também conhecida como parto de lótus, está associada a um risco aumentado de onfalite .

-Em locais com recursos limitados, a incidência estimada chega a 8% dos bebês nascidos em hospitais e 22% dos nascidos domiciliar. No cenário de recursos limitados, o cuidado tópico antisséptico do coto umbilical reduz o risco de onfalite e mortalidade neonatal.

-A separação do cordão normalmente ocorre entre 1 e 3 semanas após o nascimento.

 -Estudo realizado na comunidade Nepal demonstrou um tempo médio de separação umbilical de 4,2, 4,3 e 5,3 dias em bebês que receberam cuidados a seco, sabão/água ou cuidado do cordão umbilical com clorexidina, respectivamente. Além disso, limpezas múltiplas com clorexidina aumentaram o tempo de separação do cordão para uma duração média de 7,5 dias.

O que a OMS recomenda sobre o cordão umbilical?

-Para bebês nascidos em ambiente hospitalar ou em locais de baixa mortalidade neonatal, a recomendação é que o coto umbilical seja mantido apenas limpo e seco.

 O uso tópico de antissépticos, como clorexidina ou álcool 70% não é necessário, pois não reduzem, significativamente, o risco de onfalite, que já é baixo nestes ambientes, e estão associados a complicações raras, como atraso na queda do coto e necrose de pele.

-Para RN em ambientes de alta mortalidade neonatal (taxa de mortalidade neonatal > 30 por 1000 nascidos vivos) ou de partos domiciliares, em que não são utilizados materiais estéreis no clampeamento e corte do cordão, a aplicação de solução ou gel de clorexidina (4%), 1x ao dia, na primeira semana de vida é recomendada.

No cuidado do coto umbilical, medidas simples, não podem ser esquecidas e devem ser reforçadas ainda na maternidade, como:

-Higiene adequada das mãos do cuidador antes de manipular o RN;

-A troca frequente das fraldas, mantendo-a dobrada abaixo do coto para expô-lo ao ar.

Após a separação do cordão, enterrá-lo no pé da roseira ou no curral para trazer sorte. Ou colocá-lo dentro de uma enciclopédia para o bebê ficar inteligente (para os que ainda guardam uma relíquia de enciclopédia em casa), mantém viva as tradições familiares SEM RISCO! 

Referências:

Stewart D, Benitz W; COMMITTEE ON FETUS AND NEWBORN. Umbilical Cord Care in the Newborn Infant. Pediatrics. 2016;138(3):e20162149.

Care of the umbilicus and management of umbilical disorders. UpToDate.

Atualização sobre os Cuidados com a Pele do Recém- nascido. Documento científico da SBP. Maio, 2021. 

AU Mullany LC, Darmstadt GL, Khatry SK, LeClerq SC, Katz J, Tielsch JM SO. Impact of umbilical cord cleansing with 4.0% chlorhexidine on time to cord separation among newborns in southern Nepal: a cluster-randomized, community-based trial. Pediatrics. 2006;118(5):1864

AU Mullany LC, Shah R, El Arifeen S, Mannan I, Winch PJ, Hill A, Darmstadt GL, Baqui AH SO. Chlorhexidine cleansing of the umbilical cord and separation time: a cluster-randomized trial. Pediatrics. 2013 Apr;131(4):708-15. Epub 2013 Mar 18.

Gostou? Compartilhe nas redes sociais

Entre em contato

Se você tem dúvidas ou gostaria de oferecer uma sugestão, entre em contato.

Copyright © 2022 - Infectopediatria
Política de Privacidade & Termos de Uso